A Copa entrou na nossa cozinha

O mês de Maio vai chegando à sua metade e com ele vem à certeza de que a Copa do Mundo de 2014 ocupou de vez a cozinha de nossas vidas. É certo que ainda não há clima de Copa do Mundo. Se pelo que se fala e se ouve se chegar à conclusão de que de hoje a trinta dias começa a Copa do Mundo de Futebol de 2014, certamente a conclusão será também de que ela não será no Brasil. Os “interesses” de uma “gente” que fez a ditadura e a manteve, que enricou com ela, e que ainda não se conformou com sua perda, faz com que, eles continuem ganhando muito dinheiro, mas descontentes. São os “profetas” da melancolia Kafkiana que reproduzem a síndrome do inseto. Onde tudo tem que dá errado. Há sessenta e quatro anos o Brasil sediou uma Copa do Mundo, foi à sua final e perdeu o título para o Uruguai. A maioria da população brasileira de hoje conhece este fato apenas pelo noticiário. Ou o desconhece. De lá para cá, muita coisa mudou. No Brasil, em seu povo, no futebol e no mundo.

Ganhamos cinco Copas do Mundo de Futebol; enfrentamos e vencemos uma ditadura violenta e sangrenta; tivemos uma geração de profetas e profetizas praticamente exterminada; como diz um clássico de nossa Música Popular Brasileira, levantamo-nos, sacudimos a poeira e damos a volta por cima; lutamos pela Anistia Ampla, Geral e Irrestrita e por Eleições Diretas já; engravidamo-nos de esperança e parimos de Parto Normal, um Partido dos Trabalhadores; propusemos, construímos e enfrentamos um processo constituinte; elaboramos uma Constituição Federal Democrática e que recebeu merecidamente do Doutor Ulisses Guimarães o título de Constituição Cidadã; errando enquanto aprendíamos, mas aprendendo enquanto errávamos, como são todos os processos humanos de aprendizado, elegemos o primeiro presidente, pós-ditadura e o cassamos dois anos depois; não sem perdas, fizemos essa transição com maturidade e voltamos a eleger novamente um presidente e meio que através da pedagogia do “no processo de aprendizado, errar não é pecado” o reelegemos; descobrimos a tempo que nos dirigíamos ao precipício e corrigimos a rota; com a corrupção praticamente generalizada na política e nas instituições, com a miséria assolando um terço da população brasileira, o desemprego alarmante, juros extorsivos e o país vendo vazar suas riquezas e seus talentos, fomos radicais; elegemos um operário para o nosso presidente e governamos com ele, dando-lhe sustentação contra os herdeiros da ditadura, os neo-ditadores liberais e o império da globalização da miséria; sentimos pela primeira na nossa história o sabor de ser uma nação. Em duplo sentido. Brasileira e Latino-Americana.

O Presidente Operário governou para todos/as, mas com uma preferência explícita para com os mais pobres. Criamos o Fome Zero; fomos buscar em Josué de Castro a Segurança Alimentar e Nutricional; vimos as Ideias Germinativas de Milton Santos mesmo sendo defendidas por poucos, brotarem e se tornarem árvores; vimos a Agricultura Familiar fazer o Milagre da Multiplicação dos sorrisos e o Programa de Aquisição de Alimentos trazer o Maná do Céu para a mesa do Povo; criamos o Estatuto da Criança e do Adolescente, a Lei Maria da Penha e o Estatuto do Idoso; criamos o Prouni e quebramos paradigmas ideológicos, políticos e educacionais, oportunizando a entrada trabalhadoras/es jovens brasileiras/os nas Universidades; recriamos o ensino técnico; iluminamos os porões da Casa Grande, levando Luz Para Todos os que viviam à sombra do esquecimento; hoje podemos confirmar uma assertiva do mestre Paulo Freire de que, “Mudar é difícil, mas é possível” e vivemos o primeiro intervalo de trinta anos de Democracia ininterrupta desde que nos roubaram o nome de Pindorama.

Fomos nós quem, ousadamente, junto com o nosso Presidente Operário, hoje um dos maiores estadistas do mundo moderno, convocamos essa Copa para o Brasil. Se hoje ela entra na nossa cozinha, o faz como convidada. As forças herdeiras da ditadura e seu partido disfarçado de imprensa, mesmo sendo os maiores ganhadores economicamente, têm feito de tudo para desqualificar a Copa e quem a trouxe para o Brasil. O governo e seu povo. Convence muita gente que, enganada, esquece que os principais países do mundo disputaram conosco o direito e a responsabilidade de sediar tamanho evento. O legado que esta Copa do Mundo deixará para nosso país e para nossa história é apenas imaginável. É preciso ter a coragem de dizer que este país vem de séculos de abandono. Carece de infraestrutura, não para receber turistas, mas para garantir ao seu povo o direito de ir e vir. Aeroportos, rodo ferrovias, espaços de lazer e cultura e estruturas de turismo em geral para no máximo 20% de sua população. O Patrimônio Histórico de nossa cultura, por exemplo, que está sendo restaurado, não é apenas para a copa, mas ficará. A projeção internacional de nosso país e o desenvolvimento de nossas engenharias, o conhecimento de pelo menos outros cinco idiomas estrangeiros modernos, como inglês, francês, italiano, espanhol e alemão, etc. por muitos de nossos jovens. Sou dos que acreditam que o Brasil vai ser hexa campeão, mas, sobretudo, o Brasil já ganhou muito com esta Copa do Mundo. E vai ganhar ainda mais.

Curitiba, 10 de Maio de 2014 - Domingo.

João Santiago. Teólogo, Poeta e Militante. É educador popular das Comunidades Eclesiais de Base e do Grupo Base e Luta. É mestre em Teologia e autor do Livro “Gamela de Pedra”, entre outros, à venda com o autor. [email protected] (41) 9865-7349 – TIM e 8489-4530 – OI.