Alô, alô Marielle, aqui quem fala é da terra!

Alô, Marielle, um ano depois de seu assassinato, nada ainda foi feito para punir ninguém!
a verdade, nem mesmo para descobrir ou revelar um executor, um mandante ou um pagante que seja!
Os que te mataram morreram e estão blindados pelos túmulos feitos pelos poderes e pelas forças que te perseguiram, te ameaçaram e, por fim, te mataram.
Andam “livres” por aí!
Se apresentam como heróis, heroínas, salvadores da pátria!
Ocupam cada cargo e usam cada título, que você não acredita!
Nós também não acreditamos.
Os que mandaram te matar também morreram, mas andam por aí, dizendo que é isso mesmo.
Que é assim que tem que ser.
Que é isso o que acontece com quem não os obedece.
Dizem até que este país está melhor sem você.
Acreditam que você morreu.
E convencem muita gente de pouca fé.
Os que te amam ainda choram, mas sabem que você foi assassinada, mas não morreu.
São pessoas como você e que sabem que a falta que você faz é proporcional à ameaça que você representava para as milícias, para os clãs do crime organizado.
É, Marielle, alô!
Agora, nós também sabemos parte do que você sabia.
Existem os clãs do crime organizado.
São dementes, mas não são dementes comuns.
Eles sabem manusear armas de precisão e com precisão.
Eles têm tanta inteligência, Marielle, que não têm aonde guardar nem um pinguinho de amor.
Por isso pensam que te mataram e por isso acreditam que você morreu.
Ah, Marielle, alô!
Isto é importante.
Nós não sabemos quem foi que te assassinou, nós não sabemos quem foi que mandou te assassinar, nós não sabemos quem foi que pagou para te executar, tão barbaramente.
Mas nós sabemos que todos, todos, Marielle, absolutamente todos, já foram promovidos, recompensados, e “bem pagos! ”.
Ah, Marielle, talvez eu esteja fazendo chover no molhado, talvez você até saiba mais do que nós, eles obrigaram o Jean Willis, sabe, aquele teu companheiro de partido, de sonhos e de utopias?
Eles o fizeram renunciar ao mandato e fugir do Brasil.
Era isso ou, pum! Pum! Pum...!
Eles têm muito poder, mas não tem autoridade nenhuma!
São pitbulls, assassinos adestrados com comandos externos para praticar a violência.
Eles acham que têm o poder Supremo!
A autoridade Global!
E que têm a audiência Record!
Querem o reinado Universal para enganar as pessoas sãs e transformá-las em “Idiotas Morais!”, porque assim, assemelham-se a eles.
Eles querem convencer a todos que é matando que se resolvem os problemas.
Os palácios se tornaram condomínios do crime.
Para eles, ter “La Mayor parte es un mito”, e por isso, podem tudo.
Alô, Marielle!
A Maré sobiu, e a sujeira do apartamento vizinho, alagou todo o condominio!
Tudo fede!
Todos fedem!
O Rio está contaminado e os lagos, as esplanadas, até os planaltos correm risco.
Aonde o teu povo estará daqui a alguns anos, Marielle, nós não sabemos, mas a sujeira contaminou até a Carta.
Sabe, a Carta?
Pois é, eles a mancharam com o teu sangue e com a inocência de outros.
Dizem por aí, nas redes, nos porões e nas alcovas, onde eles fazem os seus conchavos, que eles até urinaram na Carta.
Alguns dizem que fizeram até o número dois sobre ela.
Outros dizem que a rasgaram, enfim, a coisa aquí está entre cinzas e laranjas.
Mais para laranjas, é verdade.
Alô, Marielle!
Laranjas aquí, são encontradas na Caixa Dois, tá?
Alô, alô, Marielle!
Aqui quem fala é da terra!
A terra das Laranjas, das Goiabas, das Milícias, das convicções.

Curitiba, 14 de março de 2019 – quinta feira - um ano do assassinato de Marielle.

João Santiago. Teólogo Poeta e Militante.