Educonscientização

EDUCONSCIENTIZAÇÃO[1]

 

             “Há pessoas que desejam saber só por saber,
e isso é curiosidade; outras, para alcançarem a fama,
e isso é vaidade; Outras, para enriquecerem com a sua
ciência, e isso é um negócio torpe, outras, para serem
edificadas, e isso é prudência; outras, para edificarem
os outros,e isso é caridade”.
(São Tomás de Aquino)

 

            A educação é anterior à escola. Quando inventamos a palavra escola já éramos seres educáveis e educandos. Quando aprendemos a ler a palavra escrita, também já líamos a vida e o mundo há muito tempo. Já líamos os sinais dos tempos e da natureza. A educação, conforme a concebemos hoje na escola, às vezes quase como um atributo exclusivo dela, como uma invenção sua, não pode nos fazer mais gente. Não tem o poder de mudar a nossa essência humana. Não pode mudar nem mesmo a sociedade. Está mais a serviço de sua permanência e não de sua mudança. Pode, deve e precisa aumentar a nossa consciência de seres inacabados, pode, deve e precisa, despertar o nosso desejo de gentidade. E ninguém é gente sozinha. A educação pode, portanto, humanizando-se, humanizar a nossa relação, dialogando até levar-nos à conscientização. Pode mudar a nossa forma de pensar, para, com um novo pensar, agir com mais clareza e sentido. Por isso a educação é sempre um ato dialógico. Fora do diálogo ou negando-o, o que temos é doutrinamento, no máximo treinamento.

            A educação afeta diretamente o nosso jeito pensar e de construir as relações. É pelas relações que estabelecemos que podemos avaliar a serviço de que, a favor e contra quem, a educação está. Sabemos, contudo, que ela jamais é neutra. A educação que buscamos, a qual deve merecer este nome, não pode separar o ato de aprender do ato de ensinar, como se um nada tivesse que ver com o outro. Para que, do mesmo modo, também não separe quem ensina de quem aprende, como se o primeiro fosse mais importante, mais gente e inteligente que o segundo. O ato de aprender precede o ato de ensinar. Decorre dele e foi descobrindo ser possível aprender que descobrimos ser possível ensinar.   

            Por fim, ainda mais se falamos de educação não formal, entendida como diferente daquela que o Estado é obrigado a disponibilizar, a educação não pode ser autoritária. Transmitida de uns para outros. Não pode negar a individualidade de cada um dos sujeitos da relação aprendente. Tem que criar e fortalecer a autonomia, sobretudo de pensamento. Ensinar a pensar. A refletir. A ter esperança, a ser capaz de indignar-se e ter a justa raiva, fruto da indecência que nos faz ser menos.      



[1] João Santiago. Teólogo, Poeta e Militante. Mestrando em Teologia pela PUCPR. Coordenador pedagógico do cursinho COM CIÊNCIA. [email protected] Salitre, 23 de Fevereiro de 2012.